Vontade de me apaixonar sem ponto final

Diferente de outros dias, e dos comentários retóricos sobre pessoas solteiras serem felizes com a própria companhia, hoje não almejo apaixonar-me pela a vida, pela natureza ou pelo pôr do sol. Quero me apaixonar por uma pessoa, de beijos cheios de arrepios, defeitos encantadores e loucuras parecidas com as minhas. Estou a querer perder-me nos fios de cabelos e no cheiro de café pela manhã. Espero que ela goste de ovos mexidos. E de beijos na nuca perto do lavatório. E na surpresa de uma mensagem goste de viajar: vamos para a Turquia amanhã?
Enquanto alguns ainda hasteiam o quão desapegados são, eu só me disponho a viver de novo o que o meu coração pede todo o dia. Paixão louca; aquela sensação de sentir-se tão feliz, que o medo diz que tudo isso pode não ser real. Esta é a delícia de se apaixonar, sentir-se perdido num sentimento que se faz recíproco.
A verdade é que há um momento na vida da gente em que nos vimos cansados de ter que descobrir as pessoas, perguntar o que fazem, o que gostam, ouvir os seus sonhos e interpretar os seus sentimentos. Queremos que alguém nos desvende e, como num passe de mágica, nos faça esquecer as rotinas e os desamores. Sem nos prender pela atracção lógica, mas pelo aconchego de quem, hoje, nos faz não pensar no amanhã.
Da falta de frio na barriga, vem a fome de ser feliz. Deixemos a eternidade de um amor calmo para outro dia, hoje quero ser todo euforia. Surpreende-me, pois, este coração grita por emoções loucas e todas sem explicações.
Frederico Elboni (adaptado)